Pois é, até parece novena, mas São Paulo ouviu as nossas preces e a Lei Anti-Fumo, que começou a vigorar em 07 de agosto em todo o Estado de São Paulo, parece que pegou!
Um belo exemplo a ser seguido pelo restante do país. E um grande passo a favor da saúde pública.
Dos males causados pelo cigarro creio que ninguém seja leigo, até mesmo o mais inveterado dos fumantes (que aliás deve estar odiando este post…). Mas, como sempre digo, informação nunca é demais – e aqui vale a recomendação de um site que dá um show de conhecimento em tudo que se refere à respiração: o Pulmão S.A.
Nele você vai encontrar também notícias atualizadíssimas sobre a pandemia de Influenza A (H1N1), além de infográficos, videos e links.
E salve São Paulo! O santo protetor de nossos pulmões!
Prezados,
Inicialmente quero desculpar-me por meu longo comentário – não consegui reduzi-lo sem expor o necessário. Ainda sou fumante, e apenas quero comentar alguns pontos que acredito importantes (pelo menos para mim).
Antes, quero relembrar uma entrevista do Dr. Drauzio Varella divulgada no Programa do Jô, quando o Governador José Serra foi entrevistado. Na oportunidade, o Dr. Drauzio esclareceu que a nicotina é a pior dependência química, quando comparada com todas as demais dependências principalmente ilícitas, mencionando, inclusive, a experiência com camundongos, onde aquele viciado em nicotina era o único que, antes, preferia a droga e somente depois a comida.
Agora o Dr. Drauzio está divulgando mensagem nos meios televisivos, de que o fumante não precisa fumar, evidente que ele precisa enquanto não se livrar da dependência. No mesmo programa do Jô, ele esclareceu ter sido fumante deixando o cigarro de um dia para outro, enfatizando ter sido muito difícil, o que sinceramente admiro.
Entretanto, a medicina tem conhecimento de que eliminar a dependência também está associada a outros fatores, por exemplo, o grau de ansiedade, que para uma parcela da população é maior do que a “normal”, nesse caso sendo muito mais difícil abandonar o vício.
Digo isso porque eu mesmo, quando iniciei tratamento psiquiátrico há 19 anos atrás, causado por depressão, fiz um eletro o qual indicou ser minha ansiedade maior do que a da maioria, cuja causa é uma aproximação da caixa craniana do cérebro, nas têmporas, maior ou menor em diferentes indivíduos, sem cura por enquanto (não lembro o nome técnico da doença).
De qualquer forma, todo fumante é dependente químico.
Quanto à Lei Anti Fumo que o Dr. Drauzio e muitos defendem com veemência, considero que o tratamento dado aos doentes dependentes da nicotina está sendo de completa intolerância, quando deveria ser de apoio, no sentido de dispor ao fumante métodos efetivos para auxiliá-lo a abandonar a dependência. Pelo que pude pesquisar não há clínicas para internação de fumantes, havendo somente as voltadas a drogas ilícitas (mesmo assim com custo acessível somente para as classes A e B).
Atualmente existem remédios para auxílio, o mais comercializado e com os melhores resultados também tem custo altíssimo. Pelo que pude averiguar o SUS não fornece esse tipo de medicamento.
Na prática, sem auxílio médico, apenas 10% dos fumantes que tentam conseguem abandonar a dependência. Penso que é por isso que diz que em países onde a Lei foi implantada houve redução de fumantes – nunca acima de 10%.
A intolerância a que me referi anteriormente, não está no fato de estarmos impedidos de fumar em locais públicos fechados, com a presença de não fumantes, o que concordo. Está no fato de só podermos fumar em locais totalmente abertos, no calor, no frio, na chuva, etc.
No Programa do Jô, questionado a respeito, o Governador José Serra esclareceu, por exemplo, que sob um toldo o fumo está liberado, sendo proibido somente em locais hermeticamente fechados; óbvio que não é o que a Lei diz, e nem o que os proprietários de estabelecimentos estão adotando – continuamos a ter que dar dois ou três passos para fumar. Claro que os proprietários não estão preocupados com a saúde dos fumantes ou dos não fumantes, como quer o Governador José Serra, simplesmente temem as altas multas e desgastes decorrentes. Conheço inclusive um estabelecimento onde está proibido fumar na calçada embaixo do beiral da casa (com cerca de 60 centímetros).
A opção de fumantes reunirem-se em locais apropriados, exclusivos, cobertos, com janelas abertas ou fechadas, é um direito constitucional. Afinal isso não seria um trauma para a sociedade, uma vez que, se eu estiver correto, em média apenas 30% da população fuma. Quanto ao custo do Governo para o tratamento visando eliminar a dependência, incluindo aqueles já doentes, acredito que os impostos incidentes sobre o tabaco, praticamente 100% do preço, são suficientes.
Gostaria de saber do Estado qual o percentual de custo e de mortes causado por dependentes de drogas ilícitas, pelo álcool incluindo homicídios, acidentes e mortes no trânsito, e por dependentes da nicotina. Pelo menos desconheço alguma informação a respeito, exceto que “tantos” fumantes morrem a cada ano vítimas do tabaco.
Finalizando, minha experiência pessoal mostra que, de fato, está havendo uma repulsa aos fumantes, ou segregação entre não fumantes e fumantes, que acredito provenientes de a Lei Anti Fumo em alguns pontos ser exagerada. O artigo publicado na revista Época, edição 570 de 18/04/2009, com opiniões do Dr. Michael Siegel, talvez reforce meu entendimento.
Agradeço a paciência e atenção aos meus comentários.
Antonio Sérgio, muito interessante seu comentário!
Infelizmente este espaço não é dos melhores para uma discussão, mas sugiro um debate sobre o assunto em outro forum como, por exemplo, o Twitter. Se alguém se interessar, pode incluir o Akademia (http://twitter.com/akademiamedica).
Porém, quero fazer algumas considerações sobre seus comentários: não há dúvidas que a dependência à nicotina é uma das piores existentes. E quem considera que o fumante pode “parar de fumar quando quiser” é tão ignorante quanto aquele que diz que o obeso é obeso por ser guloso. Dizem isso aquelas pessoas que nunca sofreram com um problema de saúde – ou não admitem sofrer.
Em relação ao tratamento para a dependência à nicotina no SUS, existem sim medicamentos disponíveis. Digo isso porque trabalho no SUS e os prescrevo aos meus pacientes. Uma ressalva importante a fazer é que alguns medicamentos não estão disponíveis em todos os Estados, mas pelos seus comentários você é paulista, e aqui em São Paulo temos medicação disponível!
E, pra terminar esse início de discussão, quero deixar aqui uma opinião bastante pessoal: não são apenas os fumantes as vítimas do tabaco, e sim todos os fumantes passivos que são obrigados a fumar “por tabela” quando estão próximos a um fumante. Se considerarmos uma ida ao bar como recreação, posso optar por não ficar ao lado de um fumante. Mas imagine o garçom, que não tem a opção de não inalar a fumaça, pois está trabalhando… Concordo que é um direito constitucional do fumante se reunir socialmente, mas também é igual direito do não fumante se reunir socialmente e não ser lesado em sua saúde de forma arbitrária. Se não é permitido pela constituição ferir um cidadão, aí já entra o direito do não fumante, pois a fumaça do cigarro é altamente lesiva às vias aéreas daquele que a inala.
Bem, gostei muito da conversa! Acho muito enriquecedor ouvir os dois lados de qualquer situação, e sou a favor de que a discussão continue!
Quem quiser opinar e quem quiser Twittar, vamos lá!
Abraços!